A jovem influenciadora digital Anny Gabryelle, conhecida por compartilhar sua rotina fitness e de academia nas redes sociais, foi vítima de um esquema criminoso que utiliza inteligência artificial (IA) para criar imagens íntimas falsas. A adolescente, que possui um perfil bastante ativo no Instagram, teve suas fotos pessoais manipuladas por uma quadrilha especializada, que passou a vender nudes falsos como se fossem verídicos. As imagens foram usurpadas do próprio Instagram da jovem e são manipuladas a fim de comercializar os materiais. Os criminosos usam contas de laranjas para driblar investigação.
Segundo apuração da reportagem, os criminosos usaram ferramentas de IA para gerar imagens hiper-realistas, explorando a popularidade da jovem e a exposição natural que acompanha quem compartilha conteúdo público na internet. As imagens, montagens enganosas, estão sendo comercializadas em perfis falsos no próprio Instagram e possivelmente em grupos fechados do Telegram.
O caso levanta um alerta sobre os perigos do uso indiscriminado e criminoso da inteligência artificial, sobretudo quando afeta menores de idade. O advogado especialista em crimes digitais, Dr. Marcelo Tavares, explica que a prática configura uma série de infrações graves:
“Estamos falando de crimes como falsidade ideológica, difamação, exposição de imagens falsas com fins sexuais e, no caso de adolescentes, envolvimento com pornografia infantil — ainda que as imagens sejam fabricadas”, afirma.
Os Crimes Envolvidos
A quadrilha pode responder por diversos delitos previstos no Código Penal e em legislações específicas:
- Art. 241-C do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) – A simulação de imagens pornográficas envolvendo menores de idade, ainda que artificiais, é considerada crime, com pena de 1 a 3 anos de reclusão e multa.
- Art. 218-C do Código Penal – Compartilhamento de conteúdo sexual com identidade falsa, com pena de reclusão de até 5 anos.
- Calúnia, difamação e injúria virtual – Previstas nos artigos 138 a 140 do Código Penal, podem ser agravadas se feitas com intenção de lucro ou para causar dano à reputação da vítima.
- Crimes cibernéticos – Pela Lei 12.737/2012, a chamada “Lei Carolina Dieckmann”, o acesso indevido e uso de dados pessoais com fins de extorsão ou difamação também é passível de punição.
Alerta à População
Casos como este vêm se tornando mais frequentes à medida que tecnologias de inteligência artificial, como deepfakes e editores avançados, tornam-se acessíveis a qualquer pessoa com um smartphone. “Hoje, uma simples foto postada na academia pode virar matéria-prima para crimes digitais. Precisamos discutir urgentemente como proteger nossa imagem e dignidade online”, alerta a psicóloga e pesquisadora de comportamento digital, Dra. Larissa Monteiro.
A família da influenciadora, que opta por manter a identidade da adolescente preservada, já registrou boletim de ocorrência e está acompanhando o caso junto à Delegacia de Crimes Cibernéticos.
O Que Fazer em Casos Assim?
- Registre a prova: Tire prints, salve links e URLs.
- Não compartilhe: Evite divulgar o conteúdo, mesmo que seja para “expor” o criminoso.
- Procure a delegacia especializada: No Brasil, a maioria dos estados já possui delegacias de repressão a crimes cibernéticos.
- Busque apoio jurídico e psicológico: O dano à reputação e à saúde mental pode ser profundo, especialmente em jovens.
Conclusão
A ascensão da IA traz inovações, mas também desafios éticos e legais profundos. Enquanto não há uma regulamentação mais rígida, especialistas alertam que o melhor caminho ainda é a prevenção, o uso consciente das redes e o fortalecimento das leis que protegem a dignidade e a imagem das pessoas — especialmente dos mais vulneráveis.
